FICHAMENTO DO 4º CAPÍTULO – O PLÁGIO CRIATIVO – GABRIEL PERISSÉ – A ARTE DA PALAVRA
- valdemrviana
- 15 de jun. de 2021
- 4 min de leitura
Feito por: Valdemir Matheus Aragão Viana
“Escrever é tomar a decisão de descobrir o meu método pessoal para forjar o meu eu em forma de texto.” (p.75)
“Clarice Lispector confidenciava: “Tive que descobrir meu método sozinha. [...] Me ocorriam ideia e eu sempre dizia: “Tá bem. Amanhã de manhã eu escrevo”. Sem perceber em mim que, fundo e forma é uma coisa só. Já vem a frase feita. Enquanto eu deixava “pra amanhã “continuava o desespero toda a manhã diante de um papel em branco. E a idéia? Não tinha mais. Então resolvi tomar nota de tudo que me ocorria.” (p.75)
“E as palavras somos nós, preenchendo esses abismos” (p.76)
“Por mais prosaico que seja o texto que precisamos escrever, por mais objetiva que seja a necessidade de uma carta ou e-mail, temos de levantar essas pontes com nossas palavras, com nossa personalidade, e fazer delas um caminho vivo para a comunicação interpessoal.” (p.76)
“(...) podemos imitar de forma criativa. Podemos ser originais sem a necessidade de apelar para a extravagancia. Podemos utilizar o que é alheio com a liberdade de quem tem esse algo como coisa própria.” (p.77)
“Identificar, por exemplo, uma “semelhança” entre o poema Mãe Preta de Augusto Linhares, publicado em 1948, e o poema bem mais conhecido de Manuel Bandeira, Irene do céu, escrito provavelmente no final da década de 1920.” (p.78 e 79)
“A semelhança foi procurada, e, mais ainda, a segundo poeta quis dialogar com o poema de Bandeira, trazendo, com uma ponta de ironia, o desfecho em que o branca volta a cercear a mãe preta, e lhe rouba o prazerzinho de fumar seu cachimbo.” (p.79)
“O plágio criativo é uma imitação inteligente de versos e metáforas, de ideias e frases, de resultados e conclusões de outros autores, e, devo esclarecer, esse processo criativo é utilizadíssimo pelos grandes escritores, que são ao mesmo tempo grandes leitores e descobriram o óbvio: nada existe de novo sob o sol... frase que o autor do Eclesiastes deve ter copiado de algum outro escritor.” (p.81)
“Podemos, claro, falar que tudo isso é reelaboração, paráfrase, (re)invenção e outros procedimentos do que se convencionou chamar “intertextualidade.” (p.82)
“Portando, para sermos originais, façamos o trabalho dos plagiadores! Conheçamos a fundo aquilo que lemos, ou aquilo que imitamos sem pensar. Roubemos o que é de todos! Ou o que parecer ser de um só. Mas dando a esse “roubo” um toque pessoal.” (p.82)
“(...) Usemos o que existe de melhor em cada um dos autores que lemos, acrescentando a esse material a nossa personalidade e produzindo algo original... até para nós mesmos.” (p.82)
“As primeiras pessoas com quem nos relacionamos foram as primeiras a nos influenciar, e essa influência já representa um forte “ingrediente” a atuar em nossa vida. (...)” (p.83)
“O idioma materno – não à toa utilizamos esse adjetivo – gera o nosso modo de falar, gera o nosso modo de entender o mundo e falar de nós mesmos, e entender a nós mesmos. Nele estão nossas raízes. Dele nos alimentamos. O poeta espanhol Juan Ramón Jiménez referia-se não apenas ao idioma materno, mas ao “español de mi madre” porque aprendemos a ler e escrever desde o berço, desde os primeiros diálogos com a mãe, com o pai, com os parentes mais próximos.” (p.84)
“Por mais idiomas que uma pessoa domine, nunca deixará de ter uma única língua, a língua que lhe foi ensinada pelos primeiros professores, pais; língua que permite aprender as outras” A língua materna, cujos sons, pele e perfumes são únicos e intraduzíveis, são a referência, a primeira grande influência que recebemos. Um idioma não apenas diz o que diz... mas é a melhor forma com que eu posso dizer o que sinto, o que sei, o que sou.” (p.84)
“O idioma é uma carteira de identidade de uma pessoa.” (p.85)
“O dicionário é a fonte de inspiração, reflexão e ampliação da nossa consciência dentro desse “país” lingüístico, cujas fronteiras estão nas almas mais do que nos mapas.” (p.85)
“Uma vez que o idioma é ima realidade inevitável em nós, pois dele precisamos e nele, desde os primeiros momentos de vida, começamos a forjar nossa maneira de dizer e desdizer tudo, cabe-nos a tarefa de incorporá-lo livremente. Ou seremos exilados em nossa própria terra!” (p.87)
“Devemos abraçar nosso idioma como uma realidade pessoal e transpessoal, que estão “arquivadas” as experiencias e concepção de nossos antepassados.” (p.87)
“A leitura é, portanto, um tipo de influência que podemos (e devemos) provocar em nossa vida. Uma influência que recebemos de modo “seguro”, uma influência que recebemos na privacidade de quatro paredes, no silêncio de uma biblioteca, provavelmente sentados, sem derramamento de sangue, sem gastos econômicos excessivos. Mas, afinal, uma influência decisiva para o nosso aperfeiçoamento como pessoas, como seres pensantes, e como produtores eficazes de textos. Experiência perigosíssima... para a nossa mediocridade. Perigosíssima... para a nossa imaturidade existencial.” (p.88-89)
“A cultura literária e uma das melhores influências que podemos provocar em nós mesmo, e praticamente a única se quisermos escrever com mais segurança, com mais agudez.” (p.91)
“As regras do plágio criativo. Que estão muito claras para os grandes escritores, todos eles cientes e consciente daquele dogma que o crítico norte-americano Harold Bloom soube consignar numa frase contundente: “A grande escrita é sempre reescrita”, e que podemos colocar ao lado de outra frase, da autoridade de Salvador Dali: “De quien no quiere imitar a nadie, no sale nada.” (p.92)
“Este é um caso de plágio criativo explicito, que nas mãos de artistas da palavra gerou outras pequenas seis obras-primas, todas devedoras ao original, talvez um pouco ansiosas, mas ao mesmo tempo gratas ao texto mais forte, o de Machado.” (p.93)
“Os bons textos são nossos mestres e praticamente estão pedindo para ser imitados.” (p.94)
PERISSÉ, Gabriel. A arte da palavra: como criar um estilo pessoal na comunicação escrita. 1ª edição. São Paulo, SP: Editora Manole, 2003, Capítulo 4, p.75-103.
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